segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
UMA FORTE CHUVA VAI CAIR
Oh, onde você esteve meu filho de olhos azuis?
Oh, onde você esteve, meu jovem querido?
Tropecei ao lado de doze montanhas nebulosas
Eu andei e engatinhei em seis estradas tortuosas
Eu pisei no meio de sete florestas tristonhas
Entrei e saí da frente de uma dúzia de oceanos mortos
Estive dez mil milhas
Na boca de uma sepultura
E é uma forte, é uma forte
É uma forte, e é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair
Oh, o que você viu, meu filho de olhos azuis?
Oh, o que você viu, meu jovem querido?
Eu vi um bebê recém nascido
Com lobos selvagens lhe rondando
Eu vi uma estrada de diamantes sem ninguém sobre ela
Eu vi um galho negro com sangue que pingava
Eu vi um quarto cheio de homens
Com seus martelos sangrando
Eu vi uma escada branca toda coberta de água
Eu vi dez mil oradores
Cujas línguas estavam dilaceradas
Eu vi armas e espadas afiadas
Nas mãos de crianças pequenas
E é uma forte, é uma forte, é uma forte, é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair
E o que foi que você ouviu meu filho de olhos azuis?
E o que foi que você ouviu meu jovem querido?
Eu ouvi o som do trovão
E seu estrondo era um aviso
Ouvi o ronco de uma onda
Que poderia afogar o mundo inteiro
Ouvi mil bateristas
Cujas mãos estavam em brasa
Ouvi dez mil sussurrando e ninguém estava ouvindo
Ouvi uma pessoa morrer de fome
Ouvi muitos rindo
Ouvi a canção de um poeta que morreu na sarjeta
Ouvi o som de um palhaço que chorava no beco
E é uma forte, é uma forte
É uma forte, e é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair
Oh, quem você encontrou meu filho de olhos azuis?
Quem foi que você encontrou meu jovem querido?
Eu encontrei uma criança jovem ao lado de um potro morto
Encontrei um homem branco
Que passeava com um cachorro preto
Encontrei uma jovem mulher cujo corpo estava queimando
Eu encontrei uma jovem menina, ela me deu um arco-íris
Eu encontrei um homem que estava ferido no amor
Eu encontrei um outro homem que estava ferido em ódio
E é uma forte, é uma forte
É uma forte, e é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair
Oh, o que farás agora, meu filho de olhos azuis?
Oh, o que farás agora, meu jovem querido?
Vou voltar lá pra fora antes que a chuva comece a cair
Vou andar até as profundezas da mais negra floresta
Onde o povo é tamanho
E suas mãos são vazias
Onde as cápsulas de veneno estão afogando suas águas
Onde o lar no vale
Encontra a prisão úmida e suja
Onde o rosto do executor está sempre bem escondido
Onde a fome é feia, onde as almas são esquecidas
Onde preto é a cor, onde nada é o número
E eu posso contá-lo e pensa-lo e dize-lo e respira-lo
E refleti-lo das montanhas
Para que todas as almas possam vê-lo
Então ficarei em pé sobre o oceano até começar a afundar
Mas eu conhecerei minha canção bem
Antes de começar a canta-la
E é uma forte, é uma forte, é uma forte, e é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair.
Bob Dylan
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
APURO
alfinetadas
são como carcaças do luzir
que circundam ruas
e carrosséis
e os crepúsculos
que vagueiam pelas mentes fúnebres
são tão mesquinhos
e radiantes de esquecimentos
assim
o profano que a platéia aspira
não esconde o andor
que a mentira escala
e o cordão
que saracoteia penumbras e retinas
é como o olhar
que a lua censura
e exala.
Cgurgel
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
BÊBADO BAILE
cambaleante estão todas as rosas
prisioneiras de um tempo
que costura mãos e mentes
assim como todas as procissões
que carregam pelos mares
o vazio de uma aldeia
e quem dança
por sobre o aceso fogo
são todos os pescadores
das ilusões perdidas
irmãos de um trilho do trem
que assim tão desmiolado
devora a fina flor
do que desse mundo partiu
e no fim do mundo
as madames tão perfumadas
e solitárias
em uníssono
envelhecem a selvageria
por sobre cactus e porões.
Cgurgel
terça-feira, 17 de novembro de 2009
PLATAFORMA
sou
de uma cidade distante
que cataliza
avenidas e charcos
como
uma lágrima sanguinária
que abocanha
estações e sacrifícios
vestida do vento
como emissário
de pedaços de mim
que cantarola riffs
uma anunciação de
pecados e segredos
uma cidade
assim
tão diferente
como o hino
de quem partiu para sempre
e o seu sono
por ser tão profundo
aproxima abismos e séculos.
Cgurgel
NICHO
uma ave
quando voa
é sinal de esperança
procurando
pela lembrança
que deixou
em algum lugar
uma ave
quando lembra
que existe
vira bicho
vai
ao encontro
do suor
e da luta
perseguindo o vento
e o reconhecimento
da sua trilha
uma ave
quando voa
e quando
se sente
sem
rumo
é como uma luz
que cega
e
do que
o coração
e a coragem
é capaz
e pega.
Cgurgel
domingo, 15 de novembro de 2009
sábado, 14 de novembro de 2009
terça-feira, 10 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
VERGONHA
nossas comunidades
estão todas
consumidas pelo tempo
pela manhã
ainda o sono que persiste
como encobrindo
o temor da realidade
pela tarde
o sentido da sobrevivência
em saciar a fome
entre o gelo que já não mais existe
e a seca
que assola
solos e sóis
e
pela noite
a hora de recolher
o tremor que grassa
o grão do chão
tão irreconhecível
como o medo
que circunda
esse mundo.
Cgurgel
O SER QUE SE FOI
esse é o fio tênue
que me liga a vida
o que me leva de encontro
aos últimos rituais
que o meu corpo se dispõe a fazer:
uma intensa vigília
por sobre todos os testamentos
do inconsciente que rege
os órgãos que capitulam
promessas e falsas memórias
como um cadafalso
que prima
pela desordem emocional
uma corrida
contra o templo da afeição
assim retorno
do meu frugal passo:
uma ave que chora
ao redor
dos seus rochedos
e brutais abismos
azáfama
de poucas
e mutiladas pupilas
impregnada
pela força
que o meu deslize
adoece
empalhe
de risos e respirações
um fôlego
que rouba luar
e poços de ternura
e a melancolia
que corre solta
por cima do morro
que cobre meus ombros.
Cgurgel
sábado, 7 de novembro de 2009
OPUS
o bolor
que o mundo exala
é como uma
tocha de fuga
urdimento
de cavernas e cadáveres
como frisson que fere a fé
tanto déspota capitulando de drenos
um furacão
dizima a sombra de faces
como quem vai
para a rua e não se veste
uma ópera do cáos
perfila o suor que escorre
de um filete
obscuro e intangível
poeira que cobre
lentos esqueletos
que se destrincham uns dos outros
o silêncio
de uma terra morta
lágrimas de línguas partidas
um infortúnio de léguas e párias
labaredas que embalam
cais e navegações
enxerto do ar rarefeito
boca seca
o lixo de uma civilização
que se acostumou
com o vazio
dos seus braços
mal dizer de um gesto fortuito
padecimento do chão
que já não aguenta mais
lamparinas
são como velas soltas
no oceano dos nossos cetros
como
uma carne trêmula
de tanto tentar
avenidas que se olham e choram
xamã
de um gás
que invade corações
e leitos
assim
aqui
de fora
parece que a esperança
ainda resiste.
Cgurgel
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
TURVO ONTEM
pessoas passam ao meu redor
o mandacarú flora
a ponte tão velha e esquecida
um balanço que o vento reconta
naquela esquina fogos espoucaram
carros de latinhas do leite nestlé
me lembro de tudo como se fosse hoje
subo no pé de cajarana e me farto
a igreja aos domingos e seus pecados
relembro serpentina e o perfume da lança
conto postes, quintais, pirulitos e bonsais
ao meu redor a saudade das praias da infância
o fogo da fogueira aquece a brisa do mar
uma rua escura passa ao largo da foto
vacas e bois descansam na sombra do cajueiro
o estralo da pipoca na biloca que alcança o buraco
a descida que a ladeira oferece aos meus olhos
já não me sinto sentado na cadeira da escola
no parque os brinquedos são tão únicos e sérios
já não escuto a poesia que a vida da cidade padece.
Cgurgel
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
domingo, 25 de outubro de 2009
SUFOCO
estou à mingua
sem ar, como um nó
sem língua
preciso respirar
ver a superfície
andar, conversar, sonhar
um pouco de água
para a minha garganta seca
onde a confusão não chega
necessito de luz, um clarão
que me faça acordar
por entre meus pés e mãos
um pouco de ar
preciso agora, não demora
para soerguer meus olhos e voar
por entre eu e meu mundo
por entre a superfície e o fundo
por entre os meus sonhos e o mar profundo
eu estou no sufoco
como entre paredes e o cáos
entre a gangorra e os paus
preciso viver
por entre o jardim e voce
por entre o meu ser
e o seu querer.
Cgurgel
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
MORDIDA DA VIDA QUE VOA
tá tudo aqui
e nada geme
um pacto
de resinas
e muros
assim
como uma canção eterna
e ausente
tudo
tão frágil
como um grão
que da terra tece
como um grão
que da parede
rui
de uma maçã
que desfalece de desejos
de uma noite
que vasculha
retinas e papéis
tudo como um jardim
que rega frestas
e escombros
ou de um estoque
por sobre a sombra
de quem
não se lembrou do passado
assim
como o céu e o mar
tão irrequietantemente
cúmplices
de uma fagulha
que sai
e sara
e que palpita
por entre
o barco e o berço.
Cgurgel
terça-feira, 20 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
VIÉS
venho do véu da vida
como quase tudo que advém
da palavra e do gesto
tipos são tão tontos e tantos
como tudo que sobra
e se elastece de nós e liames
uma formosa fúria e fantasia
grassa a massa que procura
por rostos e versículos salvadores
feito fécula que fere e finda
tão absolutamente silêncio e desperdício
uma rocha que abre e fecha séculos
ou mesmo ou menos missão
passeio de barco no olimpo da noite
assim como a humana bestialice das nossas lágrimas
e o arrastão do amanhã amanhece
tal qual pêndulo que vagueia faróis
isso tão pobre assim de uma legião inteira.
Cgurgel
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
CARICATO
sou
um poema avulso
que rodopia
por entre sextas e ladrões
como uma máquina
que lava corações
e se amufina
como uma longa espera
que acaba ao redor
de uma praça enferrujada
e fugidía
sou
um poema inconcluso
que bate portas
e recolhe limões
como um cinema gasto
e completamente esquecido
ao redor das suas poltronas
e pontas de cigarros
sou
um poema indócil
que se esquece das horas
e dorme ao relento
como uma sentinela
que aquece ossos
e restos de saudades
como a colheita
de uma açucena
que beira a litorânea vegetação agreste
sou
um poema que saiu de circulação
que limpa quadros
e baila ao redor do sol inocente
como um elefante
que nem sabe o que faz
rodopiando ao redor
dos seus êrros e esquecimentos
sou
um poema a beira do sacrifício
que procura atalhos e lembranças
como anistiado de avisos e lendas
ao tropel de um papel em branco
e da inconstância dos seus ventos
costurando como lenço
que espalha o rosário
desses dias tão íngremes
e despidos
sou
como se fosse
o poema que se anuncia
de boca fechada
e com os olhos bem abertos.
Cgurgel
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
O HOMEM
a espinha dorsal
de um homem
é o seu coração
ele pulsa, pulsa, pulsa
ele pula por entre grades e verões
como se fosse um bicho louco
e litorâneo
a amealhar
chaves e amores
e o cântaro de uma trilha sem fim
a espinha dorsal
de um homem
é o seu perdão
ele colide
com sargaços e palafitas
como um bosque
recheado de espinhos e pecados
e que tanto faz
de noite ou de dia
pois seu precipício anda aceso
a espinha dorsal
de um homem
é sua emoção
ela vai junto
de pedras e despenca
como uma criança
apocalíptica e imóvel
pronta para as mais insólitas
paisagens e silêncios
como ave que vê
e revê tudo
principe de despenhadeiros
e muralhas.
Cgurgel
terça-feira, 29 de setembro de 2009
ESPARTILHO
tudo
tão em vão
como se fosse um vulcão
tudo tá
sem ser são
tudo vai indo
quase findo
assim
feito um tufão
tudo assim
como um bufão
que fala
das sobras de um sermão
que rasga, grasna e pasta
assim tá
tudo uma vazão
qual um
passado perfeito
um sossego, peito
daquela embarcação
tá tudo assim
um varejão
que leva imbora
as cordas de um espaço
o canto dos pássaros
as frestas de um curativo
e o espartilho de um perdão.
Cgurgel
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
ATOS DOS OUTROS
até quando
a soberba
implodirá casarões recheados
de pílulas e válvulas cibernéticas?
até quando
saberei rezar
e pedir clemência
pelos atos dos outros?
até quando
a barbárie
devassará quarteirões
e dicionários mortos?
até quando
os filisteus
de uma hóstia sem fim
abrigarão nos seus colders
a fé
que o resto do mundo procura?
Cgurgel
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
EMBOCADURA
já hoje
eu nem fui
porque eu soube
que o tempo
já não se lembra
de me lembrar fotos e
arrecifes
procuro
pelo lento e melindroso
bosque
que esconde cordas e cobras
já ontem
eu nem fui
fiquei feliz
quando me disseram
que tudo não passou
de uma inefável
guerra
baliza
que meus olhos
vão e vêem
tudo mesmo
como o olho de um segredo
que das sombras e janelas
reparte rios e desmaios.
Cgurgel
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
DESCOMUNAL
o trilho
que tão estrago
estranho ficou
entre sombras de árvores
e os fantasmas de outrora
tipo
uma labareda infame
que destrói pescoços e brinquedos
o trilho
parece mais
um pandemônio
também pudera
a sua força
é descomunal
e bacana
por isso
que digo
o mundo sem brilho
é como uma vida
sem trilho.
Cgurgel
terça-feira, 15 de setembro de 2009
ANTI-HERÓI
meta-me
língua à dentro
como quem corroi girrasóis e gravatas
funda-me
com despejos e abóboras
como pasto no jardim do ontem
fecha-me
por entre suas portas e arrebóis
como o olhar de um passo morto
encubra-me
com seus licores e perfumes
como quem vai a esquina e se perde
curva-me
como um anzol
enferrujado de línguas e bombas
e trate-me
como um passado
ao redor dos seus cães e flores.
Cgurgel
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