Páginas

domingo, 25 de outubro de 2009




SUFOCO

estou à mingua
sem ar, como um nó
sem língua

preciso respirar
ver a superfície
andar, conversar, sonhar

um pouco de água
para a minha garganta seca
onde a confusão não chega

necessito de luz, um clarão
que me faça acordar
por entre meus pés e mãos

um pouco de ar
preciso agora, não demora
para soerguer meus olhos e voar

por entre eu e meu mundo
por entre a superfície e o fundo
por entre os meus sonhos e o mar profundo

eu estou no sufoco
como entre paredes e o cáos
entre a gangorra e os paus

preciso viver
por entre o jardim e voce
por entre o meu ser
e o seu querer.

Cgurgel

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

 MAKELY KA  - " Plutão"




BUMBO

há hiatos
por toda parte

como se o mundo
fosse uma eterna felicidade.

Cgurgel



MAUSOLÉU


há um cerco
de um circo
entre nós

que definha
dedos
restos do sim
e um louco de um por do sol

há um circo
de um cerco
entre nós

que aninha
vermes
volumes de urros e gritos de nós
a lágrima da lua que loa

há um circo
e há um cerco

e nós
títeres
de uma tréplica terra
entre nós.

Cgurgel
Joni Mitchell- "Sex Kills"

quinta-feira, 22 de outubro de 2009




MORDIDA DA VIDA QUE VOA

tá tudo aqui
e nada geme

um pacto
de resinas
e muros

assim
como uma canção eterna
e ausente

tudo
tão frágil
como um grão
que da terra tece

como um grão
que da parede
rui

de uma maçã
que desfalece de desejos

de uma noite
que vasculha
retinas e papéis

tudo como um jardim
que rega frestas
e escombros

ou de um estoque
por sobre a sombra
de quem
não se lembrou do passado

assim
como o céu e o mar
tão irrequietantemente
cúmplices
de uma fagulha
que sai
e sara

e que palpita
por entre
o barco e o berço.

Cgurgel



VÔO

há pouco
trilhei
cactus e estrelas

outrora
como um retorno
vigio o meu olho
que não se acostuma
com nada

tudo
é tão raso

me anoiteço
de sonhos e espartilhos

e o riso de anjo
que ontem vesti
respira ofegante
como o rio
que amanhece
sobre os meus pés.

Cgurgel

terça-feira, 20 de outubro de 2009




LENDA

como uma ronda
que vagueia
por entre
rios e auroras

semelhante
a um sorriso suspenso
de saudades e partidas

uma imensa
manhã
recortada de
vida e adeus

e a palavra
que voa
por sobre o meu coração
que pulsa.

Cgurgel



EPÍLOGO

louco
de quem
consumido pelo tempo
passeia pela floresta
repleta de uvas
e silêncio.

Cgurgel

segunda-feira, 19 de outubro de 2009




BARCAROLA

o som
que da onda
me leva

é como
um mergulho
suspenso
de estrelas e sargaços

bolhas
de passos
e paixão

vela
que passeia
por entre meu coração e retina.

Cgurgel



LUAMAR

aquela mesma lua
que agora
por entre a onda
balança

é a mesma lua
que há pouco
minha saudade
alcança

reflexo do mar
repleto
de brilhos
e mistérios.

Cgurgel
EXCEPCIONAL MOACY CIRNE/96!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 6 de outubro de 2009




VIÉS

venho do véu da vida
como quase tudo que advém
da palavra e do gesto

tipos são tão tontos e tantos
como tudo que sobra
e se elastece de nós e liames

uma formosa fúria e fantasia
grassa a massa que procura
por rostos e versículos salvadores

feito fécula que fere e finda
tão absolutamente silêncio e desperdício
uma rocha que abre e fecha séculos

ou mesmo ou menos missão
passeio de barco no olimpo da noite
assim como a humana bestialice das nossas lágrimas

e o arrastão do amanhã amanhece
tal qual pêndulo que vagueia faróis
isso tão pobre assim  de uma legião inteira.

Cgurgel

sexta-feira, 2 de outubro de 2009




CARICATO

sou
um poema avulso
que rodopia
por entre sextas e ladrões

como uma máquina
que lava corações
e se amufina

como uma longa espera
que acaba ao redor
de uma praça enferrujada
e fugidía

sou
um poema inconcluso
que bate portas
e recolhe limões

como um cinema gasto
e completamente esquecido
ao redor das suas poltronas
e pontas de cigarros

sou
um poema indócil
que se esquece das horas
e dorme ao relento

como uma sentinela
que aquece ossos
e restos de saudades

como a colheita
de uma açucena
que beira a litorânea vegetação agreste

sou
um poema que saiu de circulação
que limpa quadros
e baila ao redor do sol inocente

como um elefante
que nem sabe o que faz
rodopiando ao redor
dos seus êrros e esquecimentos

sou
um poema a beira do sacrifício
que procura atalhos e lembranças

como anistiado de avisos e lendas
ao tropel de um papel em branco
e da inconstância dos seus ventos

costurando como lenço
que espalha o rosário
desses dias tão íngremes
e despidos

sou
como se fosse
o poema que se anuncia

de boca fechada
e com os olhos bem abertos.

Cgurgel

quinta-feira, 1 de outubro de 2009




O HOMEM


a espinha dorsal
de um homem
é o seu coração
ele pulsa, pulsa, pulsa

ele pula por entre grades e verões
como se fosse um bicho louco
e litorâneo

a amealhar
chaves e amores
e o cântaro de uma trilha sem fim

a espinha dorsal
de um homem
é o seu perdão

ele colide
com sargaços e palafitas

como um bosque
recheado de espinhos e pecados

e que tanto faz
de noite ou de dia

pois seu precipício anda aceso

a espinha dorsal
de um homem
é sua emoção

ela vai junto
de pedras e despenca

como uma criança
apocalíptica e imóvel

pronta para as mais insólitas
paisagens e silêncios

como ave que vê
e revê tudo

principe de despenhadeiros
e muralhas.

Cgurgel