quinta-feira, 27 de agosto de 2009
ENSAIO PARA UMA LEMBRANÇA DE MIM
minha mão
não consegue mexer
minha própria mão
minha mão não consegue mexer minha própria mão
o exercício do próprio corpo físico
é como uma tesoura no ar
minha mão
é como uma relíquia
que a própria vida nunca cansa de lembrar
o exercício do próprio corpo físico
é como uma tesoura no ar
e o que o meu olho vê
não se repete jamais
o meu próprio olho físico
é como uma bolha no ar
o meu corpo jamais me acompanha
quando eu deixo de andar
e a fumaça
que dos meus dedos
espalha
não deixa nunca de me observar
o exercício do próprio corpo físico
é como uma tesoura no ar
semelhante
ao que me faz passar
na sombra tão rápida
que me traz o mar
assim
são dedos retorcidos
uma máscara
lixo
urros
sombras
sons
pássaros
quilômetros de pesos
e exaustão
o que me faz passar
é o silêncio dos vultos e das sombras
que me chamam
como o suor que escorre da face
da mulher que se foi
tal qual um sono profundo
que mudo e surdo
não se lembra do volátil vértice dos seus astros
assim a vida escorre
feito uma mistura tão frágil de descansos e anseios
tal qual
uma sinfonia instável
que suporta verões e armadilhas
um lume na janela
arrepios de música
que passa pela sombra
que do seu imóvel corpo
aquece.
Cgurgel
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"o que me faz passar
ResponderExcluiré o silêncio dos vultos e das sombras
que me chamam"
Lindo, amigo! Nossa que delícia ler você!
Parabéns, mesmo, poeta pra lá de talentoso! Vou adicionar o seu link no meu blog, pode ser? Beijão.